Manual de Remédios
Caseiros Infantis
Suzana
Lakatos e Carolina Prado
Por
mais que a medicina e a ciência evoluam, muitas receitinhas domésticas para
aliviar todo tipo de incômodo do bebê resistem ao tempo. O motivo é muito
simples: até os médicos concordam que funcionam canja de galinha, papa de
arroz, fiapinho úmido para conter soluço e outros remedinhos que nossas avós
usavam competem em pé de igualdade - e até com superioridade - com algumas das
avançadas fórmulas que lotam as prateleiras das farmácias. A maior vantagem é a
de apresentar efeitos colaterais bem suaves, enquanto os medicamentos
industrializados, dependendo do caso, podem provocar reações adversas. Criados
intuitivamente, muitos desses remédios caseiros utilizam com sabedoria as
propriedades benéficas de alimentos e plantas - hoje reconhecidas pela ciência.
Mas, acima de tudo, têm um ingrediente imbatível: o amor e a atenção dos pais.
Muitas vezes, não é o chazinho que acalma a criança, mas, sim, o fato de ela se
sentir alvo de carinho e atenção. Claro que, quando se trata da saúde do bebê,
não se pode bobear. Não é o caso de ligar para o pediatra diante de qualquer
crise de soluço, mas também não se deve ignorar que alguns incômodos, talvez
sejam o primeiro sinal de um problema mais sério. Por isso, o pediatra que
acompanha seu filho deve ser consultado sempre. Lembre-se de que os remédios
caseiros fazem efeito justamente por não serem de todo inócuos - alguns,
consumidos em excesso, podem causar alergias e intoxicações. Cuidado também com
a conservação: por não conterem conservantes, são mais sujeitos a fungos e
bactérias. Por isso, prepare as suas “poções” sempre em pequenas quantidades
para uso rápido.
- Papinha de arroz para reidratar
em caso de diarreia: Cozinhe o arroz como de costume, desligando
o fogo antes que a água seque por completo.
• Por que funciona: A
papinha atua mais ou menos como o soro caseiro, feito à base de água, sal e
açúcar. Também na papa entram sal e água. O açúcar fica por conta dos
carboidratos do arroz.
• Indicação: Para crianças
que já se alimentam com papinhas salgadas, normalmente acima dos 6 meses.
• Não há riscos
- Papinha ou suco de maçã contra diarreia:
Para a papinha, basta raspar a polpa da fruta com uma colher e
oferecê-la à criança. Para o suco, bata a fruta, sem casca e sem sementes, com
água no liquidificador. Coe antes de servir.
• Por que funciona: A maçã
contém fibra solúvel e absorve água durante o trânsito intestinal. Com isso, no
processo de digestão, ela se transforma em um gel pastoso, que deixa as fezes
mais espessas e reduz a velocidade da evacuação.
• Indicação: Para crianças
que já se alimentam com sucos e papinhas doces, normalmente após os 6 meses.
• Não há riscos.
- Água com açúcar para acalmar: Misture, em meio copo de água filtrada, uma colher de sobremesa de
açúcar.
• Por que
funciona: Em situações de stress, o
organismo libera um hormônio, a adrenalina, que estimula o metabolismo e leva a
um consumo maior da glicose - cuja taxa ficará reduzida no sangue. A água com
açúcar repõe a glicose perdida, proporcionando uma sensação imediata de
bem-estar.
• Indicação: Para crianças
que já se alimentam com sucos, normalmente acima dos 6 meses.
• Riscos: O açúcar pode
ficar depositado nos dentes da criança, aumentando o risco de cáries. Além
disso, no primeiro ano, o ideal é que o bebê se habitue a consumir apenas o
açúcar natural das frutas.
- Azeite para soltar o intestino: Entre 6 meses e 1 ano, basta uma colher de café. Para crianças
acima de 1 ano, a dose é de uma colher de sobremesa de azeite.
• Por que funciona: O óleo
não é absorvido pelo intestino e funciona como lubrificante da mucosa intestinal.
• Indicação: Para crianças
que já se alimentam com papinhas, normalmente acima dos 6 meses.
• Riscos: O uso prolongado
do azeite pode impedir a absorção de nutrientes solúveis em água, como as vitaminas
do complexo B, cuja deficiência causa irritações na pele e nas mucosas dos
olhos e da boca.
- Gelo e faca sobre batidas para
aliviar a dor e impedir a formação de manchas roxas e inchaços: Manda a tradição que se aplique uma compressa de gelo no local da
batida. Outra opção é substituir a compressa por uma faca sem corte nem serra,
pressionando-a levemente, por alguns minutos, contra o local afetado.
• Por que funciona: É a
temperatura do gelo e da faca que faz a diferença. Com a batida, ocorre um
sangramento por baixo da pele, causador do popular galo. O frio provoca uma
vasoconstrição, impedindo o sangue de se acumular na região.
• Indicação: A partir do
nascimento.
• Não há riscos.
- Mel para aliviar a tosse e
ajudar na expectoração: Funciona como
xarope e pode ser misturado com folhas de guaco ou oferecido puro. Coloque uma
colher de sopa de folhas de guaco, lavadas e picadas, em uma xícara de água
fervente, abafando por cerca de dez minutos. Coe e adicione uma xícara de chá
de açúcar cristal. Aqueça novamente, até dissolver o açúcar, e acrescente uma
colher de sopa bem cheia de mel. Deixe esfriar e guarde em vidro esterilizado,
seco e bem fechado. A indicação é de uma colher de chá de xarope duas vezes por
dia.
• Por que funciona: Os
xaropes de mel são viscosos e sua textura ajuda a acalmar as mucosas, irritadas
pelas crises de tosse. O açúcar e o mel proporcionam bem-estar, acalmando o bebê.
E o guaco contém óleo volátil, resinas e cumarina, usados terapeuticamente como
expectorante, antitussígeno (contra tosse) e broncodilatador.• Indicação: A
partir de 1 ano.
• Riscos: O mel pode conter
a toxina Clostridium botulinum,
responsável pelo botulismo infantil. Normalmente, ela é eliminada pela acidez
do estômago, mas em bebês até 1 ano esse processo ainda é deficiente.
- Banho morno para baixar a febre:
A água deve estar com temperatura em torno de 25 ºC. Outra opção é
aplicar compressas embebidas também em água na mesma temperatura.
• Por que funciona: A febre
é resultado de um comando do cérebro, que faz o organismo aumentar a temperatura
corporal a fim de combater um agente estranho. Em contato com um meio externo
mais frio, como a água, o organismo automaticamente regula a temperatura,
fazendo a febre baixar.
• Indicação: A partir do
nascimento.
• Riscos: O choque térmico
ajuda a aplacar a febre, mas é preciso descobrir a causa das altas
temperaturas.
- Massagens para aliviar a cólica:
Basta friccionar o abdome do bebê, com movimentos circulares
lentos, em sentido horário. O ideal é fazer a massagem com os dedos anular,
médio e indicador, repetindo a manobra de 80 a 100 vezes.
• Por que funciona: A
massagem provoca um aquecimento local, que faz a musculatura relaxar. Como consequência,
a dor dá uma trégua. A compressão leve do abdome também facilita a eliminação
dos gases causadores da cólica.
• Indicação: A partir do
nascimento.
• Não há riscos.
- Colocar uma bolinha de algodão
ou um pedaço de linha vermelha umedecidos no centro da testa do bebê para
acalmar o soluço
• Por que funciona: Soluços
são frequentes em bebês até 3 meses porque o nervo responsável por essa reação
ainda é muito sensível. A bolinha de algodão e a linha não possuem propriedades
calmantes. Mas a atenção que os pais dispensam ao bebê no momento do ritual
pode ser a razão da eficácia da simpatia. Para a medicina tradicional chinesa,
há outra explicação: o centro da testa é a “porta da cabeça” e sua estimulação
produz efeito calmante.
• Indicação: A partir do
nascimento.
• Não há Riscos
- Ameixa-preta para soltar o
intestino: Lave bem três ameixas e bata no
liquidificador. Coe e ofereça uma colher de sobremesa ao bebê duas vezes por
dia.
• Por que funciona: A
ameixa é rica em fibras, que estimulam os movimentos do intestino, favorecendo
a evacuação.
• Indicação: Para crianças
acima dos 6 meses.
• Não há riscos.
- Leite materno para tratar de
conjuntivite em bebês: Duas ou três
gotas podem ser aplicadas sobre a região afetada.
• Por que funciona: O leite
materno possui ação bactericida. Como esse efeito é bastante suave, o uso não
acarreta alergias ou irritações.
• Indicação: A partir do
nascimento.
• Não há riscos
- Alimentos cozidos em panelas de
ferro para prevenir e tratar anemia: Cozinhe
as papinhas, como de costume, em panelas feitas desse material.
• Por que funciona: As
panelas liberam pequena quantidade de ferro durante o preparo, o qual se
transfere para os alimentos.
• Indicação: Para crianças
que já se alimentam com papinhas salgadas, normalmente acima dos 6 meses.
• Riscos: Depois de
preparada, a comida deve ser transferida para outro recipiente. Se permanecer
na panela, a transferência de ferro pode ser muito grande e ocasionar
diarréias, que comprometem a nutrição. Esse cuidado não substitui o tratamento
médico, especialmente quando a anemia está em grau avançado.
- Lenço umedecido em álcool (sem
diluição em água) contra dor de garganta e tosse: Basta
umedecer o lenço em uma mistura de um copo de água morna com uma tampinha de
álcool e prendê-lo ao pescoço do bebê.
• Por que funciona: O
álcool aquece a região e provoca sensação de bem-estar.
• Indicação: Para crianças
acima de 1 ano e meio, sob supervisão atenta dos pais.
• Riscos: O álcool, quando
concentrado, pode causar intoxicação, pela aspiração, e queimaduras na pele.
Fique atenta ainda ao perigo de sufocamento.
- Compressas com pano morno para
aliviar dor de ouvido: Basta aquecer
uma fraldinha de pano limpa com o ferro de passar. O tecido morno, a uma
temperatura bem confortável, deve ser aproximado da orelha do bebê.
• Por que funciona: O calor
provoca vasodilatação e relaxa a musculatura da região, aliviando a dor.
• Indicação: A partir do
nascimento.
• Riscos: Não aqueça demais
a fralda. Teste primeiro em você.
- Chá de camomila para tratar a
prisão de ventre: Coloque um saquinho de chá em uma
xícara de água fervente e deixe abafado por cerca de dez minutos. Bebês devem
tomar meia xícara de chá duas vezes por dia.
• Por que funciona: A
camomila contém compostos que funcionam como antiespasmódicos, aliviando a dor
de barriga.
• Indicação: Para crianças
liberadas pelo pediatra para o consumo de outros líquidos além do leite
materno.
• Não há Riscos
- Vinagre diluído para aliviar a
coceira de picadas de inseto: Misture
uma colher de chá de vinagre em três colheres de chá de água filtrada.
• Por que funciona: O
vinagre contém ácido acético, um poderoso anti-séptico.
• Indicação: A partir de 1
ano.
• Riscos: A criança pode
ser sensível a algum componente do vinagre, o que lhe causaria coceiras e
irritação.
______________
Consultoria Renata Waksman, pediatra do Hospital
Albert Einstein e presidente do Departamento de Segurança da Criança e do
Adolescente da Sociedade Brasileira de Pediatria; Luiz Cervone, pediatra e
coordenador clínico do Hospital e Maternidade So Luiz; Késia Diego Quintaes,
nutricionista e professora do curso técnico de Nutriço e Dietética do Senac/SP;
Fábio Antoniazzi Arnoni, fisioterapeuta e docente do Senac/SP; Andrea de
Andrade Ruggiero, professora de Farmacotécnica e Farmacognosia da Faculdade de
Medicina do ABC.
Extraído da publicação Casa Claudia Bebê
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